quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

E foi verdade mesmo?

Fiz canjiquinha para o natal. Não sei se você conhece. No Espírito Santo, lá no Brasil, também a chamamos de Pela-égua. Resumidamente, é feita com flocos de milho e, dependendo da tua dieta e da disposição da dispensa, você pode incrementar com tempero verde, cebola, ... , e carnes, tipo, costela e linguiça de porco, bacon. Tem gente que põe frango pra ficar menos calórico.

O pessoal daqui de casa me caçoaram. Tentei tirar por menos dizendo que havia confundido natal com "Festa Junina" (pela égua é feito nas festas juninas e julinas). Este foi o primeiro natal que passo tão distante da família. Praticamente, um oceano inteiro nos separam.

Só eu comi. Mas também, pudera! Eu e meu guisado de flocos de milho com um peito de frango (imagem acima meramente ilustrativa) estávamos disputando com Pernil, Peru, Salpicão e Vinhos Australiano e Carbenet que os outros prepararam. Nem lugar na mesa havia pra minha canjiquinha fajuta. Confesso que canjiquinha sem porco, não dá e a minha dispensa não colaborava! O único lugar que sobrara ficou para colocar o pacote de guardanapo todo enfeitadinho com figuras natalinas.

Foi assim a minha véspera de natal. Em casa.

No outro dia, no natal, juntei todos os meus esforços para não deixar a canjiquinha estragar. Não sei se você sabe, mas flocos de milho rende pra caramba! Me surpreendi! Então, pra colocar meu plano em prática, fiz uma planilha. Comi a canjiquinha no café, no almoço e no jantar. Como? Com torradas, com pernil (o peru havia acabado) e com salpicão, consecutivamente.

Foi assim o meu natal. Em casa.

Digamos, por questão de nomenclatura que a véspera de natal (o dia 24), pra mim, simbolizou o menosprezo. E o natal (dia 25), foi a valorização das sobras.

Se eu juntar numa frase, fica a seguinte contradição: Então um menino vos nasceu. Por isso, seja menosprezado e depois, valoriza as sobras dos outros.

Antes que você possa ter compaixão e consentir por qualquer coisa, antes, saiba que tive um feriado muito bom! Sim, foram momentos felizes. Principalmente depois, no dia 26. Aqui em Londres existe o boxing day, que é a versão inglesa de liquidação. Só que aqui não é brincadeira ou algo pra gambelar consumidor. Sete horas da manhã já tem filas nas lojas para comprar artigos, que outrora, custavam 50£, passaram a estar 18£, por exemplo.

As sobras das lojas tinham um gosto bom, assim como as sobras de comida da ceia. Pra ser exato, natal aqui fica bom mesmo é depois!

E assim foi o meu pós natal. Em Croydon (onde tem shopping centre mais próximo daqui de casa).

Segundo alguns especialistas natal é mais uma data comercial do que religiosa. Muitos comemoram-na sem acreditar que Jesus Cristo seja isto tudo que a religião prega. Não me espantaria se crianças um dia passassem a pensar que aquele velhinho gritando HOHOHO é a versão hippie de Jesus, que por ter atraido problemas com a ditadura, foi exilado no Polo Norte e obrigado a ter que usar aquelas roupas vermelhas por causa do frio (era a única que tinha no abrigo). Contudo, o dia 25 de dezembro foi inventado por vários motivos, e hoje, os dois principais em vista são: vender e comer. Apenas igrejas e instituições cristãs se preocupam em incorporar o nascimento de Cristo nesta festa secular.

O que mais pesa para algumas pessoas serem frias diante desta data é que muitos decidem a compartilhar, serem dóceis, amáveis, caridosos, ... , apenas em um único dia do ano. E a maioria são apenas com as pessoas do círculo de influência. De uma forma bastante trágica, uma data tão bonita passa a ser considerado uma farsa.

Muitos perguntam o que ganhei de natal. GANHEI SAÚDE! Pode até paracer uma resposta frustrada, mas não. Falo daquela que a Organização Mundial da Saúde definiu:

Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças.

Hoje finalmente vejo alguns dos meus sonhos sendo conquistados. Mesmo tendo meu "estar físico muito bem", pergunto: o que é uma ziquizira aqui, dor de garganta acolá e uma febrinha ali se você consegue deitar tua cabecinha no travesseiro e acordar no outro dia sorrindo por ter a consciência limpa?

Para todos que tenham a consciência da suma importância do que Cristo veio fazer aqui na Terra, desejo um Ano Novo onde você possa comemorar o verdadeiro natal todos os dias.

TARCÍSIO MARCHIORI JUNIOR