sábado, 11 de abril de 2009

Outra fábula com sentido imoral

Uma vez li uma piada em que alguns animais se queixavam com Deus sobre certas características. Era mais ou menos assim:

O primeiro foi o Elefante, que argumentou sobre aquela tromba. Todo traumatizado, coitado, reclamava sobre os péssimos apelidos que obtinha na infância. Deus na sua infinita sabedoria disse que havia projetado aquela tromba para ser o único animal capaz de ter seu próprio chuveirinho, entre outras mil vantagens de ter seu "nariz" móvel. Então o Elefante saiu satisfeitíssimo, pois tinha um ego do tamanho do seu peso. Adorou a idéia de ser o único a ter um chuveirinho portátil e tal.

Depois foi a vez da Girafa. Ela já foi mostrando logo a conta do plano de saúde participativo. Pagara uma fortuna, pois onde andava prendia o pescoço nas linhas de pipa secando cerol. Deus na sua infinita paciência convenceu de que as melhores frutas e folhas as pertenciam, pois animal nenhum chegaria lá em cima do topo das arvores tão rápido quanto elas. E ainda, elas eram as únicas que parecia ter uma solitária na barriga, pois podiam comer tudo e nunca engordar. Elas ficaram envaidecidas e saíram convencidas que ter um pescoço muito comprido era muito bom, pois na saída o Anjo Gabriel havia bonificado-a um chalé super fashion para enfeitar aquela obra de arquitetura inigualável.

E assim foi uma tarde interminável de queixas e de excelentes contra-argumentos celestiais. Como ninguém levava a galinha muito a sério, resolveram deixá-la por último. Ela já estava puta com a demora, e a raiva só ia crescendo.

Depois de quatro horas de espera chamaram-na. Ela estava toda serelepe e num supetão entrou na digníssima presença do Altíssimo já exclamando: OU AUMENTA O TAMANHO DO CU OU DIMINUI O OVO (ah, e por falar em ovo, Feliz Páscoa).

E, no fim das coisas, perdemos tempo querendo saber quem veio primeiro: o OVO ou a GALINHA.

[IMORAL DA HISTÓRIA]

Nunca estaremos satisfeitos.

Até quando percebemos que as adversidades foram feitas para superarmos e vencê-las civilizadamente, xingue bastante (não aqui no blog, por favor). Pois apelar para a baixaria é uma excelente tática para conseguirmos, rapidamente. atingir nossos objetivos.

TARCÍSIO MARCHIORI JUNIOR

sábado, 4 de abril de 2009

Era uma vez... meu culto fúnebre.

Um cisco. Um pedaço pra completar. A agulha no palheiro. O recheio daqueles confeitos de padaria que nunca compram. Aliás, a mesma coisa, porém diferente. O 'raio' ensurdecedor e o 'trovão' capaz de cegar. Sou sim, o contrário.

Tentaram me virar ao avesso e viram uma pessoa normal. Enjoaram do resultado e brincaram de me revirar de volta. Quando foram juntando as peças, restava uma do lado de fora. Com muito receio me ligaram na voltagem 110 e continuei funcionar - não foi 'perda total'. Porém reagia diferentemente. Até hoje tentam me remontar pra me tornar aquela coisa que conheceram antes.

Uns desistiram e se acostumar
am comigo, outros sumiram (viraram céticos e continuaram interessados nas mesmas coisas que eu não podia mais oferecer), outros mandaram eu tomar no cu... só sei que cada vez que tentavam me 'consertar' eu me tornava, agragava ou assumia mais uma personalidade diferente, e pior, as peças continuavam sobrando sempre no final da remontagem.

Uma vez procurei repor peças po
r outras novas, colocar material zero kilômetro. Infelizmente mandaram uma carta pedindo desculpas dizendo que não havia representação para o que procurava aqui na Terra. Fui obrigado a rir disso histericamente. Vários sentimentos misturavam-se na hora que lia a carta resposta.

Embora vivemos uma vez só, sem direito à drásticas reparações, só EU vivo esta vida, mais nenhum moribundo - que este ache um corpo pra ficar e poca fora deste que é todo meu! Fiquei feliz com isto, pois odiaria a possibilidade de viver neste esquisito habitat com uma alma diferente da minha. Sou possessivo com as minhas incríveis experiências (que sempre superarão os infortúnios). Por outro lado, fiquei triste com o desgaste desnecessário que fui sub
metido.

Hoje, tardiamente, sei que existem técnicas para sobreviver por mais tempo - viver feliz com o que sou e pronto! Diferentemente de pressa, estou ansioso pra chegar logo o dia pra ir para um paraiso no qual venho investido desde minha infância. Que, por falar nisso, está sendo construido por um Revolucionário que amo do fundo do meu coração. O meu investimento? Uma merreca: minha vida - que é um cisco (confuso, difícil, pequeno, inútil, sem valor).

Claro que o pagamento foi simbólic
o. O que pagou de fato a minha passagem foi uma coisa chata que o tal Revolucionário escolheu fazer no meu lugar.

EPITÁFIO: Viver com todas as minhas forças vãs é um ato de gratidão. Assim penso que, quando a vida acaba, continuarei alegre: morrer é lucro.


TARCÍSIO MARCHIORI JUNIOR
fonte: http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?rl=mp&uid=13047458339320450497

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Criado para criar

O Pai coçou a cabeça e seu rosto expressava algo como se tivesse chupado limão e não gostou. Havia à sua frente uma imagem de barro. Um esboço, na verdade. Havia algo esquisito. Se afastou e repensou em tudo, de olho naquela coisa. Repassava os detalhes por detalhes. Achou que pensou bem quando quis moldar tal criatura de joelhos - "Afinal esta coisa tem que me adorar! Mas como os braços tinham que ficar? Deste jeito não dá." - Não tinha gostado daquela posição.

Ainda de longe (pois a distância mostra o todo melhor que de perto) aquele projeto parecia um toco de madeira fincado no chão. Decididamente pensou que se tinha que criar algo pra adorá-lo, que fosse algo importante e não um poste esperando um cachorro vir mijá-lo.

Descartou de início a idéia de colocar os braços em posição de súplica. - "Coisa de gente fresca!" - Então piscou com o olho esquerdo e a imagem magicamente foi remodelada, ficando em pé. Os braços cuidadosamente esticaram-se, como no Cristo Redentor Carioca (é só pra vocês terem uma idéia de como tinha ficado. Aliás, naquela época "O Cristo" existia, e não ainda "O Redentor"). Assim ficava mais fácil pra pensar o que fazia com os braços antes de colocar o barro no forno.

Quando ele olhou para aquela escultura em pé, de braços abertos, ficou hipnotizado. Num ímpeto, imitou a escultura abrindo Seus braços também. E numa força inexplicável os corpos se atraíram. Quando os corpos ficaram bem próximos, os braços do Pai caíram exaustos sob as costas da criação, afinal já tinha feito o mundo todo em seis dias, estava cansado e emocionado com o espetáculo de como tudo tinha ficado. O Pai suspirou forte e soltou o ar pelas narinas.

Depois de uns minutinhos (não sei o tempo exato, só sei que a criação toda parou para assistir aquela cena), o Pai sentiu uma sensação afável de algo apertando-O. Sentia mais próximo da criação - corpo a corpo. Quando se deu conta, estava repetindo o mesmo movimento que a 'escultura' fazia. Os telespectadores ficaram perplexos ao saberem que o ar de Suas narinas dava vida as coisas. Mas, na verdade, poucos sabem disto. O culpado de tudo foi o amor junto com a emoção de dar a vida. O poder de um verdadeiro abraço. O Grandioso Pai percebeu que a sua criação superou suas expectativas e até hoje nutre um amor imensurável por ela.

- Escrevi este conto baseado no poema da minha nova amiga Poliana Rodrigues Castro;

Os Laços
Link: http://devaneiosimportantissimos.blogspot.com/2009/04/os-lacos.html

Leiam, graciosíssimo.

TARCÍSIO MARCHIORI JUNIOR