sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Quando perdemos para ganhar

Não consigo dar passos largos, também, meus queridos, as minhas pernas são curtas. Costumo dizer que cresci, todavia os membros inferiores se esqueceram de acompanhar a evolução. Não vem pensando que sou uma aberração, por favor, apenas sou um indivíduo que é doido pra ter um metro e oitenta. Tenho este fascínio tanto que eu sei, de memória, como seria a minha altura em jardas na hipótese de, um dia, alcançar algo no alto sem a ajuda de uma cadeira.

Para deixar mais claro a respeito do que me aconteceu, tive um pequeno impasse com as minhas bases ósseas durante a minha infância. O fêmur, a tíbia e a fíbia resolveram se vingar recusando a crescer. Não sei se você sabe, mas o Corpo pertence a uma certa Organização que se reserva o direito de vingar-se caso seja habitado por um espírito de porco. No meu caso, por exemplo, submeti este trio ósseo a muito peso na minha infância e adolescência, no qual foram anos tentando harmonizar um 170 centímetros de altura em meio a 125 quilos de peso.

Por falar em infância, desde os tempos de nossos avôs, sabe-se que é normal ser chacota entre os colegas. Não obstante, há certas chateações comandadas por um maioral que, muitas vezes, geram um elevado grau de violência prejudicial para a vida da criança gerando um grau qualquer de conseqüência - podendo ser grave ou não. O ataque social foi atribuído pelo nome bulling e, dentre as causas, a mais alarmante são: desinteresse pelo convívio social e escolar; déficit de concentração e aprendizagem; e absentismo. Conta ainda com a baixa da resistência imunológica, auto-estima e o mais grave, a depressão e suicídio.

Até pouco tempo, o bulling era concebido como uma fase natural que todos nós temos que passar uma vez na vida. Por exemplo, os “enlatados hollywoodianos” vivem repetindo este clichê nas nossas telinhas: um 'patinho feio' virando um 'ganso' com ajuda de uma 'fada madrinha'. Ou seja, é sempre aquele que usa aparelho, cheio de acne, usando colete pra corrigir coluna vertebral, gordo, de óculos “fundo de garrafa”, todos alvo de covardia, que acabam lindos e exuberantes fazendo todos engolirem o glamour recém adquirido graças à mágica que o dinheiro e uma boa plástica pode fazer por cada um de nós.

Desculpem-me o desabafo, mas voltando ao tema, caro leitor, eu cometeria a gafe de afirmar que esta costumeira zombaria sempre foi normal na nossa cultura ocidental; E digo mais, os seres - em processo de aprendizado de como a civilização funciona - precisam passar por essa fase – ou seja, é na escola onde aprendemos que, dada a proporção, o mundo é, na verdade, verdadeiro e cruel.

Às vezes, me pergunto: o que os meus educadores estavam fazendo durante o tempo em que meus coleguinhas viviam caçoando – entre outras coisas - do fato de eu ser baixinho, gordinho e cabeçudo? Por que não passaram a idealizar que aquelas risadas, socos e pontapés que já levei foram responsáveis hoje por... Bem, a verdade foi graças ao meu tormento que me tratei, emagreci, aprendi a cuidar da minha pele... Meus queridos, hoje eu sou bem diferente do que era ontem.

Costumo dizer que sou uma reconstrução de várias demolições.

E quem, na época, foi bonitinho, perfeito e autor dos bullyings, apenas 'foram'. É certo que hoje eu me sinto bem mais preparado para receber um não de um empregador, um fora de uma possível pretendente, ..., um pontapé da vida, mas e aos que 'foram', estão preparados para o há de vir?

Suportar me faz perceber algo interessante: as minhas pernas sucumbiram a tanto peso e foram obrigadas a não crescer... Ok! Não tenho poder de culpá-las por não ajudarem na minha altura física. Mesmo porque entendi o verdadeiro valor de se crescer na moral do que na altura. Entretanto, apesar de toda esta filosofia conformativa, garanto que em todos estes anos em que tentei equilibrar todo aquele peso, foi-se a altura mas ficaram-se os músculos voluptuosos! É graças a esta natural musculação de vida pesada que escuto muito da boca alheia: POXA! QUE COXA!



TARCISIO MARCHIORI JUNIOR

Editado por Tarcizio Barbosa (tarbarbosa@hotmail.com)