terça-feira, 23 de junho de 2009

Um ensaio sobre a decepção

ANTES DE LER O CONTEÚDO DESTA CRÔNICA, GOSTARIA DE PEDIR-LHE ENCARECIDAMENTE QUE LEIA TODO O CONTEÚDO. EXISTEM 02 (DOIS ATOS) E O PRIMEIRO É TOTALMENTE DEPENDENTE DO SEGUNDO.

OBRIGADO E DIVIRTAM-SE

"Infeliz daquele que morreu antes de acabar o espetáculo. O ponto final faz toda a diferença."



UM ENSAIO SOBRE A DECEPÇÃO


PRIMEIRO ATO

Anule-se. Finja como se não estivesse fazendo nada e tudo que se comprometeu em fazer você usou parte, da tua vida, "verdadeiramente ocioso" - seja absolutamente convincente. Se precisar, esqueça que você tem outros amigos, parentes, família, e, inclusive, que esteja namorando e há uma pessoa especial no qual você queira dividir tal tempo com ela. E, se for o caso, termine. Esteja 100% envolvido nesta relação de amizade.

Ignore quando for ignorado. Para a relação durar bastante tempo, descarte qualquer sensação de que você é uma sobra. Adormeça teu senso de ridículo e procure sempre agradar a pessoa se importando com o bem estar dela. Cegue-se, caso for necessário.

Exponha tudo que você é. Jamais pense que teu íntimo, tuas lágrimas, teu âmago, tuas crises e tuas economias estão desprotegidos perante a pessoa que o assiste.

Dedique-se em tempo exorbitante. Negue seus desejos, seus encantos e seus amores. Aliás, quem realmente se presta a esse favor, de causar decepções nos outros, jamais se importará se você também é capaz de gostar da mesma pessoa no qual ela deseja brincar com os sentimentos. Se precisar, seja cruel também.

Engorde, caso estiver incomodando. Emagreça, se estiver causando ojeriza, contraia dívidas, para causar bons agrados. Esgota-se, caso for coveniente a tua presença numa balada em que no outro dia você precise trabalhar. Dedique em tempo exorbitante.

Anule-se. Sempre seja "o segundo" em tudo. Mas tem que ser em tudo mesmo. Se não, a pessoa pode ter um piti e usar isso como impecilho pra não olhar na tua cara novamente. Aliás, com o tempo, quando cair a fixa e a decepção começar a tomar forma de depressão, a triste verdade vem à tona e verás que na verdade a tal pessoa não queria mesmo é olhar na tua cara sem ter que assumir esta posição pessoalmente.

Esqueça seus gostos. Seja conivente com o gosto alheio e não seja autêntico. Aquele restaurante que você adora, não presta. Aquela música que você quer ouvir, é um saco. O filme que você quer assistir junto, ops... sumiu, saiu de cartaz, ou a pessoa já o assistiu naquela vez que você estava com dengue ou trabalhando! A roupa que você adora vestir é brega demais. Aquele assunto que você marcou anciosamente de tratar num determinado dia não vai rolar e você só descobre isto no dia, quando você fica sem jeito de ligar pra lembrar do compromisso, pois a pessoa já fez questão de não estar disponível pra qualquer outra coisa desde o dia anterior.

Se a outra pessoa usa os traumas da infância pra agir mal contigo, supere! Os que você sofreu precisam ser indolorosamente esquecidos. Afinal, nesta relação não existe espaço para o que aconteceu contigo. Faça acreditar que você sempre teve tudo do bom e do melhor. Aliás, tudo pra você é um mar de rosas e jamais tente bancar o mártire. Se quiser ajudar, rebaixe-se.

Pinta e borde; cozinhe, lave e passe; toque, cante, bata tambor e chupe Tic Tac; assovie e chupa cana-de-açucar.

Aceite os favores, mas jamais deixa transparecer que você tem a plena consciência de que aquilo vai custar-lhe caro.

Acredite nas promessas. E não esqueça de acender velas à elas. São sagradamente esquecidas, principalmente quando é fruto de algo que você pediu.

E sirva de bom currículo para a ressocialização.


SEGUNDO ATO

Para este ensaio, passe por tudo isso e um pouco mais. Mas, para fechar com chave de ouro com direito a suicídio não esqueça deste ingrediente fatal:

Esperar perfeição nos homens, é nadar, nadar, nadar e morrer na praia. É acreditar no inacreditável. É enxergar a divindade numa coisa mitologicamente dependente de purgatório.

Coloque teu rabo no meio das pernas e para de se achar melhor do que qualquer outra pessoa neste mundo. Exaltar-se por achar-se todo certinho não vai fazer de você 'mais merecedor' do que qualquer outro no mundo. Inclusive do maior criminoso do mundo. Eu até colocaria outra frase terminando com a palavra "mundo", mas o objetivo em questão é implantar a idéia de que você não está sozinho nele e muito menos ele gira em torno do teu umbigo. Fazer o que é certo não é mais do que a tua obrigação de cidadania. Não existe a opção "esperar os outros fazerem o que é certo pra depois eu retribuir" numa sociedade organizada. E se fizerem algo de errado, deixa pra quem tem competência de julgá-los.

Quando a tempestade, as coisas ruins chegam a nós, ela não escolhe quem é bonzinho ou malvadinho pra devastar. Ela vem pra todos. Apenas sofrerá os maiores danos quem colocar o coração nas coisas erradas. Jesus Cristo disse certo: "Onde você coloca teu tesouro, ali estará o teu coração" - Mateus 6:21. Se você escolher tomar por tesouro a perfeição humana, temo que teu coração estará numa roubada.

ESTA OBRA É FICTÍCIA, BASEANDA EM UM BOM ESTUDO ANTROPOLÓGICO. QUALQUER SEMELHANÇA COM A REALIDADE É MERA SEMELHANÇA. NÃO EXISTE NENHUM TEOR PESSOAL DO AUTOR PARA COM VOCÊ, LEITOR.

E caso haja realmente semelhança, não tenha medo de ser feliz e aprenda realmente a amar a pessoa que tentou dar a vida por você.



TARCÍSIO MARCHIORI JUNIOR

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Quer se expressar?

Considero algumas invenções essenciais à vida. Entre elas você encontrará As Placas. Por exemplo, se você quiser salvar a vida de alguém por exemplo, faça uma placa "Cuidado, piso molhado". Tem aquelas com objetivo de trazer praticidade, como as placas indicando o local de inscrição de alguma coisa: "Para inscrições em alguma coisa, favor seguir adiante". Tem umas que chegam a ser óbvias demais, como aquelas com símbulos dizendo que ali tem uma curva (como você não tivesse vendo uma curva ali). Mas para seguir a legislação local, necessita ter uns avisos óbvios para nenhum idiota usar como desculpa: "Ahhh, São Pedro, não tinha nenhuma placa avisando. Se tivesse talvez eu ainda estaria vivo".

A placa é um fenômeno em que exclusivamente pode trazer qualquer tipo de informação apenas afirmando ou negando. Seja ela o que você pensa sem que você tenha que necessariamente estar no local, ou até mesmo outorgar proibições para evitar sérios prejuízos.

Suas versões variam. Existe a formal, que segue padrões excluindo a influência étnica dos espectadores locais e podem ser identificadas em qualquer local público. Geralmente são usadas em lugar de circulação em massa, como o trânsito, nos comércios, nas corporações, shoppings centers, repartições públicas em geral. Existe as informais, onde um pequeno grupo com valores étnicos em comum consegue entender sem ter que pensar muito a respeito. Por exemplo, dentro de uma república, numa casa de família, entre colegas de trabalho em repartições particulares, como escritório de uma empresa por exemplo. Muitas vezes requer que faça-se uma pequena reunião para explicar seu contexto.

É nas placas que conseguimos também, em curtíssimo tempo, expressar o estado de humor do autor. Nesta placa "Favor pegar teu dedo preguiçoso e apertar a porra da descarga", por exemplo, você enxerga o quanto este autor revela uma pessoa dócil, paciente. Provavelmente deve ser o(a) zelador(a).

A seguir algumas placas como exemplo da nossa diversidade étnica. Divirtam-se:







domingo, 21 de junho de 2009

Era uma vez meu nascimento.

No ventre da minha mãe, aos finalmente do nono mês, me bateu uma crise maníaca que me fez desafiar todos os meus amiguinhos órgãos. Disse-lhes que eu iria sair daquele lugar custe o que custar! Morreram de rir da minha cara e falaram que a última que estava lá, quietinha, bem cômoda foi “cagada” expressamente por um buraco que se dilatou lá embaixo. Tentaram esconder Isso de mim, mas isto estava prestes a acontecer comigo a qualquer hora e que eu não precisava fica preocupado quanto a isso. Tentei apurar os fatos, mas me falaram que duas foram assim. A primeira demorou bastante, mas a segunda, quando eles menos perceberam, ploft!

Não pude disfarçar meu desespero perante este fato. Queria sair daquele “apertamento”, mas não estava nem um pouco afim de ser “cagado” como as outras foram. Contaram mais detalhes, parece que ao sair, já do lado de fora, eles puderam ouvir o choro desesperador dela. Apavoradamente, procurei me acomodar de um jeito no qual me deixasse longe daquele tal buraco. Emudeci de medo.

Esta introspecção, como até hoje, durou muito pouco. O fogo no rabo pra sair daquele lugar falou mais alto. Então comecei a chutar todo mundo. Tinha uma meleca na minha frente, coitada, a que mais sofreu (hoje eu sei que ela se chama Placenta). Ela me irritava, pois me ficava muito grudenta.

Quando eu menos esperava, apareceu uma luz tão forte vindo de um buracão que, surpreendentemente, abriu-se à minha frente. Os órgãos ao meu redor mentiram pra mim. Falaram que o buraco era lá embaixo e eu acreditei. Tanto que fiz de tudo pra fugir dele. Tive que xingá-los pra não ficar frustrado. Ainda bem que a tal meleca foi junto comigo, assim não me senti tão só.

Você acha que acabou por ai? Claro que não! Eu, lá fora, quando cortaram o cordão do meu umbigo (que estava todo enrolado no meu pescoço) senti um sufoco muito pior de quando estava lá dentro, junto com meus amigos onça órgãos. Veio uma dor horrenda e um aperto enorme no peito que tive que chorar. Foi minha primeira vez que abri um berreiro. Foi transitório, passou rápido. Foi logo depois que senti um vento gelado entrando pelo meu nariz que o alívio chegou junto. Havia um monte de mulher tentando me limpar e cuidar de mim. Talvez fosse por isso que a dor diminuiu. Tomei simpatia por elas, cuidaram bem de mim. O que não gostei foi do filho da puta que me deu umas palmadas na bunda. De raiva, fiz xixi na cara dele – sem intenção. Nem sabia que podia fazer isto!

Depois de 24 anos, abri meus olhos e acordei. Abri meus braços, estiquei a perna e percebi que eu estava sob minha cama bastante confortável. As vezes leio algumas narrações de pessoas relatando grandes epifanias ao acordar. Sempre consigo admirar o despertar do amanhã como um evento singular e sinto que acordar é um milagre. Pense bem, a colossal bola amarela se preocupa em dar uma volta nesta maluca bola cheia de água só para fazer a gente acreditar que a luz, que trás energia essencial à vida, nasce de novo. Quem bolou isso deve ser muito inteligente. Desenvolver uma mega engenharia que se preocupa conosco. Isto é fantástico e no mínimo fabuloso.

O novo dia representa o renovo, a segunda chance de nascer, o ciclo, novas oportunidades e esperanças.

TARCÍSIO MARCHIORI JUNIOR

sábado, 20 de junho de 2009

Curso livre de Inglês

Você que é mudo(a) e se interessa em aprender inglês fluentemente, assista a este vídeo didático.


ENQUETE:

O que você acha de mais belo na superação humana?

A) A de fazer um curso superior de Jornalismo para que 'nestes finalmentes' você descubra que não precisava dele pra nada, mas, na verdade, apenas basta ter boas influências pra entrar neste mercado que se torna a cada vez mais fútil e irresponsável?

B) Uma pessoa deficiente achar que passar por um papelão desses é superar as dificuldades?

C) Embora estamos pouco 'nos fudendo' para nada disso, pois ainda não é com a gente, honraremos tudo em nome da boa comédia (rir pra não chorar) e do espírito esportivo (fui ofendido, mas estou no lucro). Afinal, o que é um diploma totalmente desnecessário, desprezado e descartado e uma deficiência física perto da corrupção que assola nosso país?


AGRADEÇO A FRIA OMISSÃO POPULACIONAL CONTRA A BOA EDUCAÇÃO NO NOSSO PAÍS


TARCÍSIO MARCHIORI JUNIOR

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Até onde chega a vaidade masculina?

Estou agora digitando com o meu super mega fantástico celular Nokia N95 diretamente da cadeira da minha cabelereira de confiança. Estou pronto para testar uma nova técnica, chamada "Escova Americana", que ela aprendeu neste fim de semana num simpósio do Rio de Janeiro.

Como disse que ela é de confiança, não estou com medo. Mesmo porque, tenho a certeza que fico lindo de cabelos raspados. Acontece mesmo é que estou com aquela pontinha de timidez por me meter desnecessariamente numa fatia que alguns anos atrás pertencia genericamente às mulheres. A mesma timidez de entrar numa festa chique sem ser convidado. Como hoje em dia caiu este conceito de "rosa é só para mulherzinha" (que se depender de mim, podem continuar com a patente) e "azul é só para menino", então resolvi procurar fazer algo novo.

A propósito, sobre este negócio de coisa de Homem e coisa de Mulher, "a coisa" era tão séria que para o homem falar na palava Rosa teria que olhar de um lado para o outro atentamente para ver se tinha alguém por perto. E mesmo com ninguém ao lado, procurava fazer uma voz bastante máscula e timidamente pronunciava apenas para a outra pessoa destinada, e nunca mais tocava-se no assunto. Morria lá. Aliás, medo de afetar sexualidade não é coisa que preocupa as mulheres. Mas também, tadinhas, já sofrem mensalmente com o período menstrual. Provavelmente, por causa desta irremediável adversidade, elas já são compensadas. Em contra partida, nós homens tínhamos (e alguns até hoje) que nos esconder quando optávamos submetermos à técnicas, outrora ensinadas por Nephilins à bárbaras fofoqueiras centenas de anos depois que Eva e Adão corromperam-se comendo coisas indevidas. Técnica tal conhecida por Embelezamento, que pelo contexto histórico, era uma infalível ferramenta para roubar bofe da amiga - que explica muito porque tal procedimento perpertuou tanto no gênero feminino.

Pra nível de nomenclatura do Intercâmbio de Gêneros Sexuais (da sigla HOMENSEMULHERESSEPREPARANDOPRAFAZERCARÃO), os homens que querem fazer "coisas de mulher", estão "Ginecando", homenageando complascentamente o órgão sexual feminino gineceu. E quanto as mulheres que pretendem utilizar a técnica masculina , estão bombando. No quesito "aparência" e Embelezamento, a única coisa que é exclusivo do homem é o benefício em que o uso indiscriminado da testosterona pode oferecer: a de queimar gorduras facilmente revelando um excelente tônus muscular a curto prazo, por pouco tempo. As pessoas se iludem, mas a verdade é essa: tando quem "gineca" ou quem fica "bombando", a coisa funciona rápido, mas se não continuar a se submeter ao "tratamento", a coisa parece ficar pior do que estava antes. Exemplo prático: faça uma relaxamento nos cabelos e não pense depois em fazer uma hidratação pra ver que bosta vai ficar depois? E, já que estou tocando neste assundo, não estou fazendo nenhuma apologia a uso indiscriminado do Embelezamento. O uso de esteróides para fins estéticos (que é algo que cresce a cada dia) é crime e pode levar a morte.

Tanto sendo Homem ou Mulher, em se tratando de comportamento humano, esta coisa de querer se Embelezar-se aproxima muito daquilo que entendemos por renovo. A arte imita a vida, sempre! Por exemplo: as células do nosso corpo renovam diariamente, os modelos de carros renovam a cada ano, assim também como uma diversidade de outras coisas como o comércio, os hospitais, o atendimento ao público-privado (excluo em especial desta categoria o de telemarketing, que continua sempre o mesmo porre), as pessoas que governam (parece que o atual presidente quer quebrar o protocolo) e etc. Quando a pessoa procura 'renovar' algo, nem adianta argumentar que ela já é bonita de natureza e que qualquer coisa que se decidir fazer é uma invenção de moda. Afinal, 'renovo' também pode ser muito bem entendido como "o melhor", e no momento, o melhor é apagar o fogo no rabo da pessoa.

Importante não esquecer que esta fissura da 'busca pelo melhor' é uma indústria bilionária e só não faz parte dela quem já morreu, metaforicamente ou não (exceto funerais de gente rica que paga faxineiro de necrotério para melhorar a aparencia do moribundo para causar boa impressão na hora do culto fúnebre).

De duas, uma: ou me olho no espelho, e por gostar do que vejo, volto pra casa com meus cabelos sem estarem raspados, ou tento fugir de todo conhecido no caminho de volta pra evitar de responder a incômoda pergunta: "Você está tão diferente! Que merda é esta que você fez no cabelo?"

Querem ver o resultado?


Cenas do próximo capítulo? Não, famais faria isso com vocês. Está ai:



UM AGRADECIMENTO À PROPAGAÇÃO PERPÉTUA DOS CONHECIMENTOS DE SEDUÇÃO NEPHILIANA,

Tarcísio Marchiori Junior

P.S.: pra quem nunca ouviu falar em Nephilins, dê uma olhada neste negócio: http://pt.wikipedia.org/wiki/Nefilim

sábado, 13 de junho de 2009

As dúvidas atormentantes

Eu não sei se viro pra lá, ou pra cá, ou se tiro a meleca do nariz enquanto ninguém esteja olhando.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Frustração pega!

Texto revisto em: 22/08/2010
Colaboração de Tarcizio Barbosa.

[Duas grandes amigas se encontram.]

- E o Valdir?
- Morreu!
- De quê!?
- Frustração.
- Quando foi enterrado?
- Não foi, está lá em casa.
- Morto? Quanto tempo? Nem me liga pra ir ao velório, amiga! Que barra, tadinha!
- Tem uma semana já.
- Credo, e ele não fede?
- O que mais fede é saber que existe algo dentro de casa que não serve pra nada. Nem pra feder.
- Ah, que susto, amiga. Entendi a metáfora, louquinha. (risos) Eu sempre achei que ele vivia de braços cruzados.
- Nem pra dar cecê naqueles braços cruzados serve.
- Ele desistiu da vida?
- Eu não tenho o direito de entender o que se passa com ele. Mas consigo pelo menos entender quando penso em...
- Te admiro. Tem um marido inválido e...
- Guarde tua admiração, por favor!
- Caladinha! - fazendo o sinal de zíper na boca logo em seguida. Não falo mais nada.
- Eu quero também ficar calada, mas preciso fazer você entender pelo menos que existe duas maneiras básicas de resolver o que fazer da própria vida.
- A primeira é cada um cuidando da sua vida, né? Não precisa escrachar, entendi o recado.
- Não era isso que eu queria falar. Mas, está ótimo assim.
- Ai, amiga. Estou achando você tão amarga!
- Pois é, me frustrei também, infelizmente só damos valor a alguém quando perdemos.
- Está falando do...
- Sim!
- Mas você sempre foi ótima pra ele.
- Sim!
- Então, não se deprecie assim.
- A perda foi minha. Eu sei o quanto é terrível isto e, tenho certeza que existiu uma razão plausível pra ele não querer mais viver. Eu poderia ter evitado se tivesse amado mais.
- Que absurdo! Você já fez de tudo por ele.
- Sim!
- Pára de responder só "sim"! Fico sem como continuar a conversa.
- Não!
- Vem cá amiga, deixa eu lhe falar uma coisa! O Valdir não morreu, apenas está adormecido. Amor faz milagres. E se foi a falta dele, então resolve menina!
- Sim!
- ... Você está me desconcentrando.
- Não vou pedir desculpa. Disse que ficaria calada.
- Você perdeu o amor mesmo. Vou correndo comprar flores pra ele, coitado. Assim, até eu quero deixar de viver ao teu lado.
- Flores não, pelo amor de Deus! Não faça isto. Está morto, mas morrer aquela rinite chata que faz ele roncar a noite, isto não! Aqui está o remédio que acabei de comprar pra pingar no nariz dele.
- Aquele caro?
- Sim!
- ... Merda!
- Sim?
- Você já notou a quantidade de goma de mascar que tem debaixo deste banco, aqui na praça? Grudou um na minha mão.
- Colei um aí ontem.
- Credo, Rô! Você perdeu mesmo o amor, e mais, a noção da vida... pera aí, meu celular está tocando. Alô? Quê? Espera um minutinho... Rô, você não me disse que o... Estou com a Rô aqui na praça, Valdir. Sim! Elá está aqui comigo. Ahn? Sumida há três dias? Vou passar pra ela.
- Não!
- Ela não quer falar com você. Praça de Coqueiral. Sim, estamos. Está bem, tchau! Rô, ele chegará daqui uns minutos.
- Sim.
- Minha filha, você não me disse que ele está morto e tal? Acabei de falar com ele e está com uma voz ótima. Que loucura! Espera aí, quero ver direito este medicamento. Me dê a sacola, vai!
- Aqui, olha.
- Nossa! Este de caixinha vermelha é muito caro. Mas é ótimo pra desentupir o nariz! Mas aqui amiga, ele disse pelo celular que vocês brigaram. É o fim? Já tem tempo que vocês não estão bem. Graças a Deus que não tiveram filhos! Já pensou? Esperai aí, Márcia! Não precisa chorar, vá! Não falei este lance de filhos por mal. Vem cá.
- Nããããooooo!
- Ok! Não está aqui mais quem fala. Estipulei uma meta pra levar a minha vida com menos estresse e estou me desobedecendo. Pronto! Vou viver a minha vida, embora ache que você faz parte dela afinal, somos amigas desde criança, não falo mais nada sobre o que se passa. A não ser caso você não queira saber o que penso.
- Até hoje, você sabe driblar meus ataques infantis. Estou aqui, chorando de raiva querendo lhe contar as duas maneiras de como podemos levar a vida e você finge nem estar aí para as minhas filosofias de merda. Sempre me irritei com este teu falso descaso.
- Olha lá o Valdir, estacionando o carro. Mas Rô, eu já sei o que você vai dizer. Lembra-se quando...

[Chega o marido]

- Valdir, sai daqui! Não quero mais falar contigo!
- Calma, Rô, deixa eu ir aí falar contigo, por favor!
- Rô, então pra que você comprou o remédio pra ele?
- Eu comprei pelo meu plano de saúde como se fosse pra mim. Ele largou o emprego, deixou de cortar as unhas, fazer a barba e ir ao salão cortar o cabelo, apenas, toma banho, pois foi minha condição inicial pra conviver com ele sem ter que mandar ele de volta pra'quele casarão dos pais, que ele tanto odeia.
- Valdir, meu filho. Que merda é esta? Desistiu da vida?
- Não, Márcia, apenas não quero mais insistir. Quando as coisas se resolverem no tempo que julgar necessário, já terei partido. E morto, metafórico ou não, agradecerei o tempo que se julgam perdido. Afinal, sempre viveram por mim: Escolheram minha profissão, minha roupa, meu modo de falar, meus filmes pra assistir, os livros pra ler, felizmente, a única peça fundamental que me estimula a continuar vivo, e feliz, a qual pude escolher, é a Rô.
- Pois é, Rô, olha que lindo isso que teu marido acabou de dizer. Estou emocionada. Sei que não se vive de romantismo, mas vocês vão sair desta pra melhor!

[depois de um breve silêncio]

- Sim! Mesmo porque, só existem dois jeitos de se levar a vida...
- Ah, é amiga! Estava me esquecendo, conta! Aproveita que o Valdir falou esta frase de efeito super romântica, dê a tua deixa!
- Pois então, o primeiro jeito é...

[chegou um moleque armado, ateou três tiros contra Rô, matando-a. Depois roubou os dois sobreviventes]

- Inspirado no texto de Leandro Bacellar, que se encontra neste endereço: http://leandrobacellar.blogspot.com/2009/04/desistencia-vida-normal-uma-conversa.html