A antítese é uma técnica literária. Sei que é chato falar sobre técnica, mas a antítese é uma figura de linguagem bastante interessante e uma das que mais admiro. Gosto muito de temperar meus textos com esta ferramenta e tenho certeza que quando você se familiarizar, vai começar a ver a vida com outros "olhos azuis" (vai entender melhor quando ler o texto inteiro), e será peça fundamental na rotina diária.
Segundo Léo Schlafman (em: clique aqui), "a poesia não está na forma das idéias, mas nas próprias idéias, acentuando-se ainda mais, em seus cantos, a antítese entre o mundo real e o mundo ideal. Pensar por antítese era aliás atitude generalizada entre românticos". Por exemplo, Vinícius de Morais escreveu: "Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios".
Após o declínio do renascentismo nasceu o movimento barroco, que também usou muito as antíteses nas suas composições artísticas daquele tempo. A justificativa de usar tanto a antítese foi que o renascentismo evidenciava apenas a ciência, excluindo totalmente 'Deus' em todas as facetas artísticas e, no barroco, em contrapartida, voltou a pensar em Deus sem deixar de lado a importância do homem (herança renascentista). Para tal conflito, nada melhor se aliar à antítese.
"Viverei para sempre ou morrerei tentando,
Onde queres
prazer sou o que dói,
Residem juntamente no teu peito/um demônio que ruge e um deus que chora
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido
sou herói"
Amor e ódio, sol e chuva, Deus e diabo, escuro e claro, riso e choro, etc., são exemplos de antíteses literais. Quando tentamos conciliar a dualidade numa mesma setença, o sabor do real sentimento vem à tona, revelando a verdadeira idéia por trás daquela máscara.
Quando ela é aplicada ao nosso cotidiano percebemos quanto ela pode nos ser útil. É a Antítese que vem para explicar o "fenômeno torto" da "matemática da vida". Entenda por "matemática da vida" a soma das coisas que levam a um específico resultado. E o "fenômeno torto" é quando nos surpreendemos que por acharmos que tal coisa deveria acontecer, entretanto, surpreendentemente, tudo muda de rumo. Ou seja, tal fenômeno se torna esquisito pois quando a "matematica da vida" preconiza que 2+2 deveria ser 4, quando vamos ver na prática, se tornou 5.
Quer exemplos?
(João e Maria se encontram. Se apaixonam e marcam casamento)
No grande dia esperado, o do casamento, em meio a cerimônia o padre/pastor/a mãe/o raio que os partam faz a tal pergunta que todos esperam. Dependendo da resposta, que sempre é a mesma, a ideal para o momento, acontece o ritual das trocas da alianças.
(Então, daí temos 2+2. Que é igual à: viveram felizes para sempre, ou seja, 4.)
A genitora para tal fenômeno chama-se "antítese comportamental", que atua no campo filosófico essêncial para o significado daquela antítese usada em âmbito literário. Ela vem pra bagunçar tudo, ora mostrando o que é 'real', ora do 'ideal'. Evidenciando o que é falso e o que é verdadeiro.
Como incorporar a "antítese comportamental" dentro de uma situação cotidiana?
(Vítor e Laura se encontraram. Se apaixonaram, e desde então iniciaram um namoro. Depois de dois meses, dialogavam)
- Vitor, não! Não estou pronta!
- Mas Laura... não tem nada a ver.
- Tem a ver sim! Muita coisa a ver. Estou me preparando para me entregar quando for o momento certo.
- Mas Laura... você sabe o quanto...
- Quanto...?
- Quanto eu lhe amo.
- Oh, Vítor. Que lindo! Também lhe amo muito. Jamais acreditaria que diria isso.
- Oh, Laura. O tempo foi amadurecendo.
- Sim! Vem. Estou pronta.
(Casaram-se e viveram felizes para sempre?)
[INCORPORANDO A ANTÍTESE COMPORTAMENTAL (EM AZUL) MOSTRANDO O QUE ACONTECEU PARA QUE AS CONTAS DESSE OUTRO RESULTADO]
(Vítor e Laura eram os mais populares da escola e se encontraram. Se apaixonaram pela oportunidade de serem mais populares ainda se assumissem um relacionamento juntos, e desde então iniciaram um namoro. Depois de dois meses, dialogavam calientemente)
- Vitor, gostosão! Já te falei que não estou pronta!
- Mas Laura... sua idiota, não tem nada a ver.
- Tem a ver sim! Muita coisa a ver. Estou vendo a fama que tenho com as minhas amigas só por que ainda você está babando por mim e não consegue parar de pensar em mim. Por isso que estou me preparando para me entregar quando for o momento certo.
- Mas Laura... imbecil você acredita mesmo que estou babando por você? Só quero te comer. Você não sabe o quanto... [e mete um beijo quente e super gostoso de língua na laura]
- Quanto... que mede o teu pau? [pergunta ela ofegante, sentindo sua vagina umidecer]
- Tire a roupa e saberá o quanto ele poderá medir. [Vitor olha em direção para o próprio bilau, durinho no ponto e sussura assim: eu lhe amo].
- Oh, Vítor. [Laura tem acessos de desmaio ao ver Vítor nu e exclama com todo furor: Que lindo!] Também lhe amo muito! [ela não estava se referindo a pessoa do Vítor e sim ao corpo do Vítor e pensou exaustiva: Jamais acreditaria que diria isso: Graças a Deus, o Vítor não é gay!]
- Oh, Laura. O tempo foi amadurecendo.
- Sim! Vem. Estou pronta.
(depois de 9 meses nasce Vitinho, sem pai, sem família, prestes em ser doado para alguma família que o queira)
Agora sim o fim não foi surpreendente (5), e tudo graças aos outros "olhos azuis" da "antítese comportamental".