sexta-feira, 1 de abril de 2011

Organização Sim Governamental

Gostaria de contar-lhe uma verdade. Ou uma mentira. Na verdade mesmo - ou mentira mesmo -, ninguém é dono da verdade. Melhor dizendo, gostaria de fazer uma contestação: quem não me garante que há muito tempo vivemos uma contraversão?

Transgrediram o nosso direito de saber que felicidade não é e nem leva-se ao êxtase. E, consequentemente, nem sempre o êxtase causa a felicidade. São apenas governos distintos dentro de uma mesma pessoa.

Muitos acontecimentos podem nos fazer sorrir. Neste seguinte paradoxo, por exemplo, o contracheque do nosso deputado federal, vulgarmente conhecido por Tiririca, nos faz rir - de raiva. Entretanto, no íntimo, queremos é cortar os pulsos quando lembramos que pagamos quatro anos e meio de faculdade para chegar num mísero piso salarial. A vontade de se suicidar aumenta quando nos lembramos que aquela emoção imensa por graduar se transforma numa sensação passageira similarmente aquele frio na barriga que sentimos quando o avião decola, e, no fim, resta no íntimo apenas a vontade de sair logo daquela lata voadora para chegar a independencia financeira e êxito profissional - andar com as próprias pernas.

O governo da felicidade está relacionada nas reações músculo-esqueléticas e o governo do êxtase está conectado ao nosso sistema nervoso, que é responsável em produzir neurotransmissores causadores das reações sentimentais. Felicidade, capa. Êxtase, intimidade. E, ambas, podem ser e estar em coisas extremamente diferentes.

Machado de Assis, imerso no realismo, tentou esmiuçar esta faceta de vida em Quincas Borbas. Podemos viver tanto tempo uma ideologia ridícula, errada, achando-nos donos da verdade. Mas, basta uma decepção amorosa que desfalecemos, enlouquecemos e morremos. Nossos ideais podem até estar equivocados e mesmo assim procuramos lutar com a nossa vida pra provar que estamos certos. Por outro lado, mas no mesmo âmbito, se a nossa roupa está fora de moda, entramos em depressão e preferimos estar alheios ao que acontece ao nosso redor tentando fugir da realidade.

Não posso dizer se Quincas fez certo ao ludibriar Rubião com a filosofia humanitista, apenas pra fazer dele o cuidador de seu cachorro - talvez no íntimo de Quincas, o que ele queria mesmo era acreditar que seu cachorro precisava cumprir sua missão na Terra, caso viesse falecer antes do bicho. Mas se Rubião comprou esta idéia, ele apenas não o fez porque teria finalmente encontrado a felicidade em viver a tal filosofia, mas sim, porque no seu íntimo, ou seja, na sua existencia, ele finalmente encontrou seu papel neste habitat redondo que fica boiando neste vácuo esquisito, onde, na verdade, ninguém sabe exatamente o porquê ele está aqui e pra quê ele ainda continua aqui.

Se um dia você pretende conquistar alguém, fisgue-o pelo seu governo interno. Tente descobrir o que a pessoa pensa da vida e passa a se interessar por isto. Mesmo que, na verdade, você tenha mais interesse pelo que a pessoa mostra ser por fora, que foi o caso de Cristiano com Rubião. Não demorou muito e Rubião achou brilho aos seus olhos quando a tal filosofia, herdada junto com o cachorro, trouxe a possibilidade de conhecer a comprometida Sofia e o salafrário de seu marido, o já dito Cristiano, que tinha o hobby de subtrair-lhe os bens. Ela usava seu charme, ludibriando-o e dando-lhe a esperança de que um dia ele irá possuí-la. Coisa que nunca aconteceu e, por causa disto, acabou enlouquecendo. Morreu encapsulado num personagem que ainda acreditava no humanitismo.

Pode até ser que pelo êxtase, buscamos a felicidade. Pois mesmo que ambos possam ser coisas completamente diferentes, é do êxtase que adquirimos energia pra atraír motivos pra movermos dezenas de músculos. Mas lembremos, é pela felicidade mal suprida, e correspondida, que podemos vir a parar de reagir à vida. Contudo, é pela falta de êxito que nos reajustamos. Se por acaso, no nosso íntimo, sentimos que tal coisa não nos pertence, então partimos pra outra. Mas se a capa, que o governo da felicidade nos forçou a usar, nos fez passar por ridículo, queremos esquecer qualquer possibilidade em dar-nos outra chance, pois apenas doido é capaz de usar maquiagem por cima de outra e, neste caso, a emenda fica pior que o soneto. Tanto que, é fácil parar de cometer bullying contra gays, quando os seres que o cometiam são verdadeiros héteros ludibriados por uma teoria preconceituosa fundada por um grupo de extermínio minimalista. Em contrapartida, as pessoas que comentem bulling para esconder sua identidade homossexual - que é a maioria dos casos - quando desmascaradas, resta apenas o suicídio social e moral.

Os nossos governantes nunca conseguirão lutar pelos ideais da sociedade. Sabe por quê?
- Primeiro, porque somos muitos e os diferentes ideais são inúmeros;
- Segundo, quem deve lutar por seu ideal é o próprio indivíduo;
- Terceiro, os ideais conseguem ser mudados sem constrangimento algum, e tentar resolver algo passivo a inconstancia é frustrante. O governo não deve ajudar a você decidir se quer ser médico ou não, por exemplo;

Hoje a maconha é proibida e a arma é vendida, e amanhã, poderá ser comprada em drogarias e recolhida e aprendida na polícia federal, consecutivamente. Porque as idéias que influenciam na intimidade, como por exemplo a legalização do aborto, é mutável. Basta esperar que na hora certa a rede Globo inventará uma novela convencendo 80% da população de que abortar seria a melhor opção e, no estalar de dedo, vários governantes - que passaram seus últimos meses investindo toda a sua fortuna em clínicas para aborto - assinarão uma resolução pra liberar tal ação. Entretanto, quando o assunto for de interesses externos, o Governo tem por obrigação, constitucional, suprir - vestir, comer, locomover, expressar, educação, saúde e segurança. E, na condição de estarmos felizes, nos tornamos reféns de achar que estão fazendo um bom serviço. Os gorvenantes só atuam nos ideais não por fazer bem à população, mas por dois motivos básicos: pra agradar a maioria e pra não vivermos uma anarquia.

É por isso que se a cada dia não lutarmos em prol de procurar definir quais são os nossos ideais, passaremos a ficar vazios, lutando por nada, mesmo que o nada não tenha nada a ver com o que somos hoje por dentro. É melhor ser um recheio-surpresa do que seres incapazes de desenvolver intimidade - mesmo que pra dar-lhe a devida atenção, ao governo interno, precisamos fazê-lo escondido.


TARCISIO MARCHIORI JUNIOR

Um comentário:

  1. Queria "glossariar" no fim de tudo mas só posso clamar em alto e bom som; TEM ALGUM (RESET) em nós????

    belo texto!!!
    Abraços amineirados!

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