segunda-feira, 19 de abril de 2010

O que mata é a falta de opção.

O dia escolhido pelo ex-presidente Getúlio Vargas para homenagear o índio foi 19 de abril. A intenção foi boa, ou seja, a de poder se desculpar pelo fato do Brasil ter ignorado totalmente a presença dos nativos na América. Até então, ainda não eram considerados como cidadãos, capazes de serem respeitados por leis comuns a todos os seres humanos brasileiros.

Como se fosse ontem, lembro de quando eu ouvia meu professor de história - e o de geografia também - contando a história em que os colonizadores tentaram de tudo para poder tirar dos índios "o mapa do tesouro", digo, as riquezas do lugar onde habitavam. Não obstante, o índio jamais desconfiava que aquele negócio reluzente e dourado tivesse valor em algum lugar no mundo. Inclusive a coisa ficou feia. Primeiro, os europeus chegaram bem amigáveis, trazendo novos conceitos de alimentação, bandeirola branca, sorrisos, roupas, comportamento civilizado e, na religião, ofereciam um céu caso fossem bonzinhos, etc. Entretanto, com tanta confusão no idioma, acharam que os índios ficavam "escondendo o ouro". E como preço de tal comportamento - sem retorno -, passaram a usar técnicas para arrancar a verdade a qual estavam procurando. Ou sejam, num instante eram um povo pacífico e no outro passaram a torturar aqueles que impediam de chegar nas riquezas americanas. Há relatos em que penduravam os índios pelos cabelos num penhasco. Imagina?! Que desespero!!!

Imagine a imagem do europeu gritando com um sujeito que, obviamente, não estava entendendo nada do que se tratava, pendurado pelos cabelos, a beira da morte. Primeiro chegaram com uma bandeira da paz, e tempos depois, apelaram para agressão (e para entender agressões, não necessariamente preciso ser fluente em nenhum idioma).

Meu protesto é que, infelizmente, muitos chamam os lugares chatos, enfadonhos, ultrapassados - por serem rústicos demais -, com pouca opção de conforto - e muitas vezes, nenhum - de "Programa de Índio" - expressão largamente usada no sudeste brasileiro.
Tal situação, para melhor compreensão do leitor, pode ser representada pelos seguintes exemplos:
- Acampamentos sem banheiro, tratar de realizar necessidades no mato;
- Acomodações sem chuveiro - e se tiver, sem água quente, só resta ficar fedendo;
- Ir a uma cachoeira no meio do nada com um fusquinha, no qual não entra numa oficina para uma revisão há anos, com o tanque na reserva, um ingrediente perfeito pra passar por mal bocados;
- Andar de bicicleta num parque super bonito com a virilha assada, haja força de vontade pra respirar ar puro;
- Passar férias na casa do vovô e ter que assistir Raul Gil com ele o final de semana inteiro, sem qualquer outra opção de lazer, tem que ter saco.
- etc...

O que, na verdade, configura o verdadeiro programa de índio é:
- o índio estava na dele, andando pelado pra lá e pra cá. Vestiram-lhe roupa.
- o índio comia o que caçava. Inseriram geladeira na sua oca e enlatado na sua despensa.
- o índio ouvia histórias dos vovôs caciques. Incluíram o rádio, TV e internet como principal fonte de entretenimento.
- o índio tinha sua própria medicina e controle de natalidade. Empurraram-lhes antibióticos e anticoncepcionais.
- o índio conseguiu desenvolver sua própria matemática, contagem do tempo, métodos científicos, "religião". Convenceram-lhes de que se não fossem disciplinados, catequizados e etc, ainda seriam considerados selvagens, e pior, iriam para o inferno.
- o índio tinha uma situação demográfica estupenda. Atualmente é bastante precária.
- o índio até pouco tempo ainda, falava português com sotaque bem carregado. Hoje quando vou a Porto Seguro, vejo alguns com sotaque carioca e falam ao celular com gírias que eu nem conheço o significado, embora eu nem faça tanta questão.

E eu pergunto: e é o índio que tem que tomar fama a relativo infortúnio? A maior fraqueza humana é perder tempo denegrindo a raça alheia ao invés de juntar esforços pra valorizar o que é de si.

Eu apenas crio o protesto contra este injúrio com a seguinte frase:

Não existe nada melhor do que estar com pessoas que gostam da gente. Não existe nada pior do que estar no meio em que nos julgam por estarmos ali, só porque não temos outra opção, que muitas vezes, é a pura verdade.

O índio nunca teve opção de nada. E até hoje, o que ele faz através de alguma lei existente no Brasil é ainda tentar preservar o que resta do seu povo nesta anarquia cultural. A verdadeira América, mesmo, morreu por causa de gente que acha-se ter chegado a uma situação civilizada avançada, porém mais me parece chata, preconceituosa e medíocre. E foi ela que tornou a vida deste povo um inferno.

Parafraseando o ditado sem autor: "A cada dia que passa, me torno mais amigo dos cachorros e dos índios".

O que faz qualquer lugar ser ideal para uma boa convivência é conter nele pessoas capazes de espalhar amor, paz e alegria.


E, caso não exista ninguém assim, tenha em mente que "um dos segredos da felicidade é desenvolver o amor próprio. Ou seja, ter a certeza que embora não temos aquilo que desejamos, já estamos no lucro pelo fato de termos nós mesmos como dádiva".


Tarcísio Marchiori Junior


Texto revisto por Tarcizio Barbosa em 17/10/2010;

Nenhum comentário:

Postar um comentário