domingo, 21 de junho de 2009

Era uma vez meu nascimento.

No ventre da minha mãe, aos finalmente do nono mês, me bateu uma crise maníaca que me fez desafiar todos os meus amiguinhos órgãos. Disse-lhes que eu iria sair daquele lugar custe o que custar! Morreram de rir da minha cara e falaram que a última que estava lá, quietinha, bem cômoda foi “cagada” expressamente por um buraco que se dilatou lá embaixo. Tentaram esconder Isso de mim, mas isto estava prestes a acontecer comigo a qualquer hora e que eu não precisava fica preocupado quanto a isso. Tentei apurar os fatos, mas me falaram que duas foram assim. A primeira demorou bastante, mas a segunda, quando eles menos perceberam, ploft!

Não pude disfarçar meu desespero perante este fato. Queria sair daquele “apertamento”, mas não estava nem um pouco afim de ser “cagado” como as outras foram. Contaram mais detalhes, parece que ao sair, já do lado de fora, eles puderam ouvir o choro desesperador dela. Apavoradamente, procurei me acomodar de um jeito no qual me deixasse longe daquele tal buraco. Emudeci de medo.

Esta introspecção, como até hoje, durou muito pouco. O fogo no rabo pra sair daquele lugar falou mais alto. Então comecei a chutar todo mundo. Tinha uma meleca na minha frente, coitada, a que mais sofreu (hoje eu sei que ela se chama Placenta). Ela me irritava, pois me ficava muito grudenta.

Quando eu menos esperava, apareceu uma luz tão forte vindo de um buracão que, surpreendentemente, abriu-se à minha frente. Os órgãos ao meu redor mentiram pra mim. Falaram que o buraco era lá embaixo e eu acreditei. Tanto que fiz de tudo pra fugir dele. Tive que xingá-los pra não ficar frustrado. Ainda bem que a tal meleca foi junto comigo, assim não me senti tão só.

Você acha que acabou por ai? Claro que não! Eu, lá fora, quando cortaram o cordão do meu umbigo (que estava todo enrolado no meu pescoço) senti um sufoco muito pior de quando estava lá dentro, junto com meus amigos onça órgãos. Veio uma dor horrenda e um aperto enorme no peito que tive que chorar. Foi minha primeira vez que abri um berreiro. Foi transitório, passou rápido. Foi logo depois que senti um vento gelado entrando pelo meu nariz que o alívio chegou junto. Havia um monte de mulher tentando me limpar e cuidar de mim. Talvez fosse por isso que a dor diminuiu. Tomei simpatia por elas, cuidaram bem de mim. O que não gostei foi do filho da puta que me deu umas palmadas na bunda. De raiva, fiz xixi na cara dele – sem intenção. Nem sabia que podia fazer isto!

Depois de 24 anos, abri meus olhos e acordei. Abri meus braços, estiquei a perna e percebi que eu estava sob minha cama bastante confortável. As vezes leio algumas narrações de pessoas relatando grandes epifanias ao acordar. Sempre consigo admirar o despertar do amanhã como um evento singular e sinto que acordar é um milagre. Pense bem, a colossal bola amarela se preocupa em dar uma volta nesta maluca bola cheia de água só para fazer a gente acreditar que a luz, que trás energia essencial à vida, nasce de novo. Quem bolou isso deve ser muito inteligente. Desenvolver uma mega engenharia que se preocupa conosco. Isto é fantástico e no mínimo fabuloso.

O novo dia representa o renovo, a segunda chance de nascer, o ciclo, novas oportunidades e esperanças.

TARCÍSIO MARCHIORI JUNIOR

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